segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Hora da travessia


Os dias se passaram muito rápido, não planejei essa velocidade, muito menos essa intensidade de acontecimentos.

Planejei um ano tranquilo, sem paixões turbulentas, com viagens, com objetivos alcançados, planejei um ano de libertação, de grandes acontecimentos.

E, nada, do que planejei saiu como eu esperava, entretanto, não fico surpresa por isso, minha vida toda sempre foi regrada ao acaso, ao destino, a decisões tomadas em segundos, a vidas separadas em questão de dias, a dores que parecem mumificadas ao tempo.

Mas há uma decisão que estou postergando, deixando passar os segundos, os dias e os meses, só que agora chegou sua hora, chegou a data definitiva da escolha, ou vou ou fico.

Já pensei, já analisei, já revi mil vezes as consequências que isso irá causar, e sinto, sinto muito, mas não posso ser para sempre um pilar que sustenta uma família unida, não posso ficar ao lado de todos, nem mais viver a vida dos outros.

Preciso deixar que todos sigam seu caminho, inclusive eu, que abdiquei de meus sonhos para estar ao lado dos que amo. Fiz isso no momento oportuno, fiz isso quando a vida me exigiu responsabilidade sem eu saber o que era se quer ser adulta. Cresci, amadureci e evolui, agora, agora é hora de viver outra vida, de seguir meu caminho (o meu caminho).

Como diria Fernando Pessoa “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.

É hora da minha travessia, hora de retomar planos de acordar os sonhos adormecidos.

É hora da escolha, da decisão, da minha vida.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Namore uma garota que lê


Namore uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de biblioteca desde os doze anos.

Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.

Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criado pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro.

Compre para ela outra xícara de café.
Diga o que realmente pensa sobre o Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela de ser a Alice.

É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa.

É que ela tem que arriscar, de alguma forma.
Minta. Se ela compreender sintaxe, vai perceber a sua necessidade de mentir. Por trás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. E isto nunca será o fim do mundo.

Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim. E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois.

Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Exceto as da série Crepúsculo.

Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.

Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.

Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.

Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê.

Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.

— Texto original de Rosemary Urquico, traduzido e adaptado por Therllym Chalega.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Ainda lembro


Queria te encontrar, te olhar nos olhos e dizer que nada passou, que sinto saudade do riso, do carinho, do olhar no olho, daquelas gargalhadas que ecoavam pela casa. Saudade da alegria que se irradiava entre nós. Saudade de você me olhando. Saudade do que passou.
Não sei por que, não sei por que razão, mas a vida não se explica. Nada acontece como planejamos e todas aquelas frases clichês que todo mundo conhece e no fundo eu bem sei como a vida funciona. Sou prova viva de um destino, sou prova do destino de muita gente.

Encontrar quem nos faz feliz é fácil, aquele que achamos que seria o amor de nossas vidas, mas como ouvi dizer, quero ver convencer que somos o dele.
Não sei onde erramos, não sei por que tudo aconteceu tão rápido e tão negligenciado. Algo que seria lindo, você sabe que seria, não foi vivido com a intensidade que chegou, pela covardia de duas pessoas que tudo o que querem na vida é ser feliz, mas não querem em hipótese alguma passar perto de situações que lembrem nossos passados.

Eu queria te encontrar, mas não vou, eu queria saber de você, saber se você está bem, se está se cuidando bem, se precisa de mim, mas não posso.
Só posso esperar o tempo passar....só posso deixar a vida acontecer, com tudo de ruim ou de bom que ela vai me trazer...

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Crescer...


...Crescer é perder o saco. Pequenas coisas não mais bastam. A gente cansa de quem é ingrato, quem não valoriza o gesto pequeno, quem não entende o poder de uma canção, quem não traz a sensibilidade estampada no peito. Eu enjoei de gente que não sabe sentir. E de quem só se queixa da vida e fica parado pensando que uma hora a festa vai ficar animada. A festa, muitas vezes, quem faz sou eu mesma. Tiro o sapato e aproveito, danço sem música, canto sem letra, faço caras e bocas na frente do espelho, dou um jeito qualquer, mas que seja engraçado e deixe a minha alma em paz. Nem sempre a festa precisa de gente, você gosta de figurantes? Odeio quem tá ali só pra constar. Esteja ali pra me amar. O resto a gente inventa. Traga a sua loucura, os abraços aqui são garantidos.
Crescer é utilizar melhor o tempo que resta. Cansei de amores de meia página. Amizades com meia dúzia de letras não me satisfazem mais. Com o passar do tempo, a gente quer sossego e tranquilidade que rodopia. Alguém que nos acolha, que nos traga um sorriso gratuito, que dê um abraço que deixa sem ar, que o abraço sem ar seja mudo e que tenha a seguinte legenda “olha, eu estou aqui bem aqui pertinho de você, não fica com medo não”. O que a gente quer é se esconder do medo, nem sempre encarar é sinal de maturidade. Muitas vezes fazer um gesto pra lá de obsceno é bem mais maduro, atitude adulta, sabe como é? Foda-se. Às vezes é assim, foda-se mesmo, paciência, babaus. A gente tem que saber bem o que fazer com as horas, o tempo vai passando, anda de ônibus, bicicleta, avião, navio. O tempo viaja, leva muita roupa, paga excesso de bagagem, fica com dor nos pés de tanto andar e perambular feito um mulambento por aí. O tempo fica deprimido, toma Valium e passa cinco dias atirado no sofá sem tomar banho, ganhando um cheiro ruim e um aspecto de acabado.
Crescer é aceitar que os defeitos são peças indispensáveis no guarda-roupa e, felizmente, nunca saem de moda. Entenda que eu tenho, você tem, o mundo inteiro tem. Crescer é compreender que um dia, inevitavelmente, você cresce. Não adianta não querer, se esquivar ou correr. Quando você não tem armas suficientes para combater alguém, guarde a pistola ou a espada. Bandeira branca. Mãos livres. Paz. Crescer é aceitar apenas. Crescer é perceber que mesmo depois de bem crescido você ainda pode dormir abraçado num bicho de pelúcia....